“O obstáculo é o Caminho”​ de Ryan Holiday

Santahelena
6 min readJul 4, 2019

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Série de artigos com highlights dos livros que eu mais gostei.

A ideia aqui não é desestimular a compra do livro, muito pelo contrário, é estimular! Portanto, se você gostar dos trechos abaixo, vale muito a pena comprar o livro aqui.

Se tiver alguma sugestão, fique a vontade de me mandar pelos comentários. Obrigado por estar por aqui comigo. Vamos juntos!

Highlights do livro “O Obstáculo é o Caminho” de Ryan Holiday

No ano 170, à noite, em sua tenda nas linhas de frente da guerra na Germânia, Marco Aurélio, imperador do Império Romano, sentou-se para escrever. Ou talvez fosse antes do alvorecer no palácio em Roma. Ou ele roubou alguns segundos para si mesmo durante os jogos, ignorando a carnificina lá embaixo, no chão do Coliseu.

O local exato não importa. O importante é que este homem, conhecido hoje como o último dos Cinco Bons Imperadores, sentou-se para escrever. Não para uma plateia ou para ser publicado, mas para si mesmo. E o que ele escreveu é, sem dúvida alguma, uma das fórmulas mais eficazes da história para superar todas as situações negativas que possamos encontrar na vida. Uma fórmula para prosperar não só a despeito seja lá do que estiver acontecendo, mas por causa disso.

Naquele momento, ele escreveu apenas um parágrafo. Somente uma pequena parte dele era original. Quase todos os pensamentos podiam, de uma forma ou de outra, ser encontrados nos textos de seus mentores e ídolos. Mas, em escassas oitenta e cinco palavras, Marco Aurélio definiu e articulou com tanta clareza uma ideia eterna que eclipsou os grandes nomes daqueles que o antecederam: Crisipo, Zenão, Cleantes, Ariston, Apolônio, Júnio Rústico, Epicteto, Sêneca, Musônio Rufo. É mais do que o suficiente para nós.

“Nossas ações podem ser impedidas… mas não há como impedir nossas intenções ou disposições.

Porque podemos conciliar e adaptar. A mente adapta e converte a seus próprios propósitos o obstáculo à nossa atuação.

O que impede a ação favorece a ação.

O que fica no caminho torna-se o caminho”.

Nas palavras de Marco Aurélio, este é o segredo de uma arte conhecida como virar obstáculos de cabeça para baixo.

Agir com “uma cláusula reversa” de modo a haver sempre uma saída ou outra rota para chegar aonde você precisa ir.

De modo que revezes ou problemas sejam sempre esperados e jamais permanentes.

Deixando claro que o que nos impede pode nos fortalecer.

Vindo deste homem especial, estas não foram palavras vãs. Em seus 19 anos de reinado, ele vivenciaria uma guerra quase constante, uma praga terrível, possíveis infidelidades, repetidas e árduas viagens através do império–da Ásia Menor até a Síria, o Egito, a Grécia e Áustria–, um tesouro rapidamente exaurido, um meio-irmão incompetente e ganancioso como co-imperador, e outras coisas mais.

E, pelo que sabemos, ele realmente viu cada um destes obstáculos como oportunidades para praticar alguma virtude: paciência, coragem, humildade, engenhosidade, razão, justiça e criatividade.

O poder que tinha jamais parecia subir-lhe à cabeça–nem o estresse ou as obrigações. Ele raramente se excedia ou tinha acessos de raiva, e jamais sentia ódio ou amargura.

Esta abordagem filosófica é a força motriz de homens que se fizeram por si mesmos e o socorro para aqueles em posições de grande responsabilidade ou de grandes problemas.

Seja lá o que enfrentemos, temos uma escolha: ficaremos bloqueados por obstáculos ou passaremos por cima deles? Podemos não ser imperadores, mas o mundo ainda nos testa constantemente. Ele pergunta: Você merece?

Pode passar pelas coisas que inevitavelmente caem em seu caminho? Vai se levantar e nos mostrar do que você é feito?

Muita gente respondeu a esta pergunta na afirmativa. E uma raça ainda mais rara mostrou, não que tem o que é necessário, mas que prospera e se reanima a cada um desses desafios.

O desafio te torna melhor do que se jamais tivesse enfrentado a adversidade.

Esta coisa a sua frente. Esta questão. Este obstáculo — este problema frustrante, infeliz, incerto, inesperado — impedindo-o de fazer o que quer. Esta coisa que você teme ou secretamente espera que jamais aconteça. E se não fosse assim tão ruim?

Esse homem é nós — ou melhor, pode ser nós, se nos esforçarmos para ser como ele. Pois estamos na nossa própria luta, com nossos próprios obstáculos, e podemos desgastá-los com nosso incansável sorriso (frustrando as pessoas ou os empecilhos que tentam nos frustrar).

O seu obstáculo talvez não seja tão grave ou violento. Mas não obstante é significativo e foge ao seu controle. Ele justifica apenas uma resposta: um sorriso.

Como os estoicos ordenavam a si mesmos:

Alegria em todas as situações, especialmente as ruins. Temos que aprender a encontrar alegria em cada coisa que acontecer.

“Minha fórmula para grandeza num ser humano é amor fati: que não se queira que nada seja diferente, não no futuro, não no passado, não em toda a eternidade. Não suportar meramente o que é necessário, menos ainda ocultá-lo… mas amá-lo”. NIETZSCHE

Aprender a não espernear sobre questões que não estão sob o nosso controle é uma coisa.

Indiferença e aceitação é certamente melhor do que desapontamento ou raiva.

Muito poucos compreendem ou praticam essa arte. Mas é apenas um primeiro passo. Melhor do que tudo isso é amor por tudo o que nos acontece, por cada situação.

Não escolhemos o que nos acontece, mas sempre podemos escolher como nos sentimos a respeito.

Não perca um segundo relembrando suas expectativas. Olhe para a frente e enfrente com um elegante sorrisinho.

É um pouco artificial, eu sei, sentir gratidão por coisas que, em primeiro lugar, nunca desejamos que acontecessem.

Mas, a esta altura, sabemos as oportunidades e benefícios ocultos nas adversidades. Sabemos que, ao superá-los, emergimos mais fortes, mais espertos, com maior poder de decisão. São poucas as razões para retardar estes sentimentos.

Ame tudo o que acontecer: amor fati

Se alguém que conhecemos levasse para o lado pessoal os sinais de trânsito, nós o julgaríamos maluco.

No entanto, é exatamente isso o que a vida está fazendo conosco. Ela nos diz para parar aqui. Que algum cruzamento está bloqueado ou que uma estrada em particular mudou de rota por meio de um desvio inconveniente. Não podemos nos livrar do problema discutindo ou gritando. Simplesmente aceitamos.

Isso não quer dizer que permitimos que nos impeçam de chegarmos ao nosso destino final. Mas muda o modo como viajamos para chegar lá e a duração da viagem.

Quando um médico lhe dá ordens ou um diagnóstico — mesmo que seja o oposto do que você queria — o que você faz? Você aceita. Você não tem que gostar ou curtir o tratamento, mas sabe que negá-lo só atrasa a cura.

Depois que você distinguiu entre as coisas que dependem de você e as que não dependem (ta eph’hemin, ta ouk eph’hemin), e que a ruptura se reduz a algo que você não controla…Você tem apenas uma escolha: a aceitação. A tentativa não deu certo. As ações despencaram. O tempo destruiu a carga. Diga comigo: C’est la vie. Tudo bem.

Você não precisa gostar de alguma coisa para dominá-la–ou usá-la com alguma vantagem. Quando a causa do nosso problema está fora de nós, é melhor aceitá-la e seguir em frente. Parar de chutar e lutar contra ela, e chegar a um acordo. Os estoicos têm um nome bonito para esta atitude. Eles a chamam de a Arte da Aquiescência.

Se persistência é tentar solucionar um problema difícil com obstinada determinação e martelando até chegar a uma solução, então pode-se dizer que muita gente é persistente. Mas perseverança é algo mais amplo. É o longo jogo. Não se trata do que acontece apenas no primeiro round, mas no segundo e todos os outros que se seguem — a luta depois dessa e a luta seguinte, até o final.

Os alemães têm uma palavra para isso: Sitzfleisch. Poder permanente. Vencer grudando o traseiro na cadeira e não ir embora até terminar.

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Raul Santahelena é autor dos livros:

“Muito Além do Merchan: como enfrentar o desafio de envolver as novas gerações de consumidores” (Ed. Elsevier, 2012) LEIA AQUI

“Truthtelling: por marcas mais humanas, autênticas e verdadeiras” (Ed. Voo, 2018) LEIA AQUI

“Significado Profundo (DeepMeaning): libere a energia íntima e visceral da sua marca” (2019)

Professor de Branding Planning na Miami Ad School/ESPM.

Mestrando em Gestão da Economia Criativa na ESPM.

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Santahelena

Writer, author; Professor of Deepmeaning Brandbuilding; Digital & Content Executive;