A arte de ressignificar nossos momentos ruins
Imagine que você ganhou um vaso oriental de presente de casamento da sua avó.
Mas infelizmente a sua avó vem a falecer alguns anos depois.
Essa perda faz com que o carinho que você sente por aquele vaso fique ainda mais forte, tornando seu valor sentimental praticamente incomensurável, não é mesmo?
Agora imagina se um dia alguém esbarra nesse vaso e ele vai ao chão, se repartindo em vários pedaços espalhados pra todo lado.
Você consegue imaginar o que você sentiria nesse momento?
Qual a sensação?
Perda? Desilusão? Inconformismo?
Vontade de voltar no tempo e mudar o que aconteceu?
Mas, e se em vez disso você pudesse ressignificar esse objeto sentimental destroçado?
E se você pudesse trazê-lo de volta à vida de uma forma reintegrada, inusitada?
E que o tornasse ainda mais especial e repleto de significado profundo?
“Kintsugi” é nome de uma arte milenar japonesa usada no reparo de vasos e demais peças de cerâmica que se quebraram.
Em uma tradução livre, Kintsugi significa reparo ou emenda de ouro. É uma técnica de restauro que utiliza mistura de laca e ouro em pó como um tipo de “cola” que serve pra juntar novamente as partes quebradas e estilhaçadas.
Assim, a peça restaurada ressignifica totalmente o seu sentido estético e seu papel no mundo.
A sua representatividade emocional ganha uma camada nova de sentimentos talvez até mais intensos, íntimos e profundos do que antes, quando o vaso era perfeito. Uma nova narrativa passa a ser escrita transacionando esse objeto de sua serventia utilitária para novos papéis filosóficos-sentimentais profundos.
O seu valor se torna maior, não apenas por conta do ouro, mas especialmente pela autenticidade e originalidade que passa a adquirir — características muito cultuadas pelos japoneses que adoram essa técnica e também por muita gente no espírito do tempo contemporâneo.
Por isso tudo, o Kintsugi é uma verdadeira aula de como podemos lidar com as nossas quedas e com a nossa vulnerabilidade.
Como podemos compreender que as quedas nos ajudam a encontrar as nossas reais potências íntimas. São os empurrões, rasteiras e tropeços que nos conduzem em intensas jornadas de descobertas profundas que jamais percorreríamos por opção própria. Precisamos ser empurrados nessa jornada adentro.
O Kintsugi carrega em si toda uma filosofia de vida que vai muito além dos vasos. É sobre a aceitação do que foi forjado pelas agruras da vida, daquele que sobreviveu aos ferimentos e que viu renascer-se em luz depois de uma provação mais intensa, que lhe deixou marcas das quais não se deve esconder ou envergonhar-se. E sim, deve-se ter um grande e cultuado orgulho.
É neste sentido que o Kintsugi opera como uma grande parábola da cultura japonesa que valoriza tanto essas nossas marcas do tempo, da luta, dos reflexos e desgastes, que são verdadeiros testemunhos das nossas experiências, vivências e aprendizados. A evolução humana se traduz muito mais nas cicatrizes do que nos sorrisos.
* * *
Raul Santahelena é autor dos livros:
“Muito Além do Merchan: como enfrentar o desafio de envolver as novas gerações de consumidores” (Ed. Elsevier, 2012) LEIA AQUI
“Truthtelling: por marcas mais humanas, autênticas e verdadeiras” (Ed. Voo, 2018) LEIA AQUI
“Visceral: libere sua energia mais íntima e autêntica” (2019)
Professor de Branding Planning na Miami Ad School/ESPM.
Coordenador de Planejamento da Miami Ad School (RJ).
Mestrando em Gestão da Economia Criativa na ESPM.
#Kintsugi #Marketing #LeiaSantahelena #Santahelena #LeiaTruthtelling #Social #Branding #DeepBranding #Meaningful #MeaningfulBrands #Brands #Brand #Truthtelling #Visceral #MarketingVisceral #MarcasViscerais #VisceralBranding #VisceralBrands #Purpose #BrenéBrown #BreneBrown #Vulnerability #Meaning #Meaningfulness