A arte de ressignificar nossos momentos ruins

Santahelena
3 min readSep 27, 2019

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Imagine que você ganhou um vaso oriental de presente de casamento da sua avó.

Mas infelizmente a sua avó vem a falecer alguns anos depois.

Essa perda faz com que o carinho que você sente por aquele vaso fique ainda mais forte, tornando seu valor sentimental praticamente incomensurável, não é mesmo?

Agora imagina se um dia alguém esbarra nesse vaso e ele vai ao chão, se repartindo em vários pedaços espalhados pra todo lado.

Você consegue imaginar o que você sentiria nesse momento?

Qual a sensação?

Perda? Desilusão? Inconformismo?

Vontade de voltar no tempo e mudar o que aconteceu?

Mas, e se em vez disso você pudesse ressignificar esse objeto sentimental destroçado?

E se você pudesse trazê-lo de volta à vida de uma forma reintegrada, inusitada?

E que o tornasse ainda mais especial e repleto de significado profundo?

“Kintsugi” é nome de uma arte milenar japonesa usada no reparo de vasos e demais peças de cerâmica que se quebraram.

Em uma tradução livre, Kintsugi significa reparo ou emenda de ouro. É uma técnica de restauro que utiliza mistura de laca e ouro em pó como um tipo de “cola” que serve pra juntar novamente as partes quebradas e estilhaçadas.

Assim, a peça restaurada ressignifica totalmente o seu sentido estético e seu papel no mundo.

A sua representatividade emocional ganha uma camada nova de sentimentos talvez até mais intensos, íntimos e profundos do que antes, quando o vaso era perfeito. Uma nova narrativa passa a ser escrita transacionando esse objeto de sua serventia utilitária para novos papéis filosóficos-sentimentais profundos.

O seu valor se torna maior, não apenas por conta do ouro, mas especialmente pela autenticidade e originalidade que passa a adquirir — características muito cultuadas pelos japoneses que adoram essa técnica e também por muita gente no espírito do tempo contemporâneo.

Por isso tudo, o Kintsugi é uma verdadeira aula de como podemos lidar com as nossas quedas e com a nossa vulnerabilidade.

Como podemos compreender que as quedas nos ajudam a encontrar as nossas reais potências íntimas. São os empurrões, rasteiras e tropeços que nos conduzem em intensas jornadas de descobertas profundas que jamais percorreríamos por opção própria. Precisamos ser empurrados nessa jornada adentro.

O Kintsugi carrega em si toda uma filosofia de vida que vai muito além dos vasos. É sobre a aceitação do que foi forjado pelas agruras da vida, daquele que sobreviveu aos ferimentos e que viu renascer-se em luz depois de uma provação mais intensa, que lhe deixou marcas das quais não se deve esconder ou envergonhar-se. E sim, deve-se ter um grande e cultuado orgulho.

É neste sentido que o Kintsugi opera como uma grande parábola da cultura japonesa que valoriza tanto essas nossas marcas do tempo, da luta, dos reflexos e desgastes, que são verdadeiros testemunhos das nossas experiências, vivências e aprendizados. A evolução humana se traduz muito mais nas cicatrizes do que nos sorrisos.

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Raul Santahelena é autor dos livros:

“Muito Além do Merchan: como enfrentar o desafio de envolver as novas gerações de consumidores” (Ed. Elsevier, 2012) LEIA AQUI

“Truthtelling: por marcas mais humanas, autênticas e verdadeiras” (Ed. Voo, 2018) LEIA AQUI

“Visceral: libere sua energia mais íntima e autêntica” (2019)

Professor de Branding Planning na Miami Ad School/ESPM.

Coordenador de Planejamento da Miami Ad School (RJ).

Mestrando em Gestão da Economia Criativa na ESPM.

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Santahelena

Writer, author; Professor of Deepmeaning Brandbuilding; Digital & Content Executive;